MEMÓRIA CULTURAL

Definição:

Historiadores, desde Tucídides (séc. V a. C.), perseguem a Verdade. Nos séculos XX e XXI tem início a percepção de que na ficção, ou seja, nos processos que envolvem a imaginação, há um outro grau de verdade histórica: a dimensão da memória. Noção de memória cultural deriva, segundo F. Marshall (2008), das fecundas reflexões de M. Halbwachs sobre memória social para quem a memória individual (inclusive os sonhos) “é produzida na medida em que esta memória participa em uma memória coletiva, ou seja nos quadros sociais da memória”. Para Jan Assmann, professor de Ciência da Cultura da Universidade Constança, a memória cultural tem seus próprios pontos fixos que são eventos do passado cuja memória é mantida através de formações culturais (textos, ritos, monumentos) e comunicação institucional (recitação, prática, observância). São as chamadas figuras da memória. No fluxo da comunicação cotidiana, tais festivais, ritos, poemas, etc. formam ilhas do tempo de diferente complexidade suspensa no tempo. Na memória cultural, tais ilhas do tempo expandem-se como espaços de memória de contemplação retrospectiva (ASSMANN, 1995, p. 129, citado por F. Marshall In: Apresentação. Memória cultural polonesa. Studio Clio, 2008, p. 11-17).



 

Histórico: Jan Assamnn e sua mulher, a professora de Literatura Inglesa e Ciência da Cultura, Aleida Assmann, podem ser considerados os dinamizadores do conceito de “memória cultural”. Trata-se aqui não apenas de uma memória “voluntária”, mas de uma memória coletiva “involuntária”, nos subterrâneos da qual há tecidos que, após longo período de latência, podem voltar à superfície. A memória cultural descrita pelo casal Assmann alimenta-se da tradição e da comunicação, englobando “rupturas, conflitos, inovações, restaurações e revoluções”. Os rituais pertencem ao campo da memória cultural, da mesma forma que símbolos, ícones, representações como memoriais ou templos. Outra teórica que retoma o conceito de memória cultural é Régine Robin, em Le Roman mémoriel.  Em tese sobre a obra dessa teórica francesa radicada no Quebec, Kelley B. Duarte afirma: “R. Robin associa três outros tipos de memória à memória coletiva. Junto dela, estariam a memória nacional, a memória erudita e a memória cultural. Embora seja a memória cultural aquela que, junto da coletiva, é a mais desenvolvida no plano da ficção, todas elas, juntas e tramadas, contribuiriam para a construção do ‘romance memorial’” (2010, p. 131-132).

Comentário: conclui-se que é através da memória cultural que se dá a rememoração de mitos, obras de arte, artefatos artísticos e literatura. Em um mundo marcado pela extrema mobilidade e velocidade de informações, pode-se assegurar o fluxo entre passado e presente e a preservação de patrimônios culturais que, de outra forma, desaparecem ou viram sombra nas bibliotecas, como acrescenta F. Marshall (2008).



 

Autoria:
Zilá Bernd

Referências

ASSMANN, Jan. Freud, a religião e a memória cultural. Cultura, 04.04.2006. Disponível em: <http://www.dwelle.de/dw/article/0,,1947328,00.html>. Acesso em: 09/02/2011.

______. Collective Memory and Cultural Identity. In: New German Critique, n. 65, Cultural Histoty/Cultural Studies, Spring/Summer, 1995, p. 125-133 (trad. Por John Czaplicka).

MARSHALL, Francisco. Apresentação: Memória cultural, conceito e projeto. In: HALEWICZ, Tiago. Memória cultural polonesa. Porto Alegre: Studio Clio/Vidáguas, 2008.

ROBIN, Régine. Le roman mémoriel.  Montréal: Le Préambule, 1989. Coll. L´Univers des discours.

DUARTE, Kelley B. A escrita autoficcional e híbrida de Régine Robin: mobilidades no percurso da memória. Tese de doutorado apresentada no I. Letras/UFRGS, nov. de 2010 (mímeo).

 

 

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