MODA E MEMÓRIA

Definição:

Moda é o uso, hábito, gosto ou estilo nos mais diversos aspectos possíveis, dentro de um determinado contexto, podendo estar associada a bens corpóreos ou incorpóreos. O uso de roupas é apenas uma das possibilidades de atuação da moda – contudo, é seu segmento mais expressivo. Conforme James Laver, “as roupas são inevitáveis. São nada menos que a mobília da mente tornada visível”[1]. Dessa afirmação depreende-se a relação entre moda e memória, relação esta que perpassa por conceitos como identidade, imaginário social, linguagem e cultura.



 

 

Histórico: a moda é forma de “ser e estar no mundo”: designa o espaço geográfico de quem a veste, sua posição temporal, de classe, de gênero e sua identidade. Afinal, antes da roupa, há a escolha do que vestir. E é nesse ato da escolha que reside o impacto da memória. A identidade é construção cultural e social sustentada pela linguagem. A moda, por sua vez, é linguagem, na medida em que revela a representação de um imaginário formado por um conjunto de símbolos daquilo que se pretende transparecer ao outro. O imaginário social serve como elemento de coesão social, para o qual convergem as ideias, sentimentos, valores dos componentes de um grupo, criando entre eles uma unidade e, consequentemente, uma identidade comum. E é por meio da memória que se respalda o sentimento de continuidade de coerência de um componente de um grupo em sua reconstrução de si[2]. Halbwachs ensina que a memória individual existe a partir de uma memória coletiva, pois todas as lembranças originam de uma convivência em grupo. Ou seja, nossas ideias, sentimentos, paixões, etc. decorrem de uma memória coletiva, a que ele chama de intuição sensível, base de toda lembrança[3]. A memória individual, construída a partir das referências e lembranças próprias do grupo, refere- se, pois, a “um ponto de vista sobre a memória coletiva” – uma perspectiva particular, portanto, sobre um todo comum. E por debaixo dessa aparente opção pessoal, há aspectos sociais e históricos, calcados na representação dos conceitos de poder, status social, condição etária e de gênero, ou até mesmo travestida de ideia de uma determinada personalidade.

Comentários: escolhemos o que vestir com base em elementos culturais, calcados em nossa memória. E então vestimo-nos para expressar (linguagem) a nossa identidade no âmbito social, com o intuito de coesão com determinado grupo, cuja identidade (coletiva) é criada a partir de um imaginário social. A este, convergem elementos de cada vivência individual, norteadas por diretrizes estabelecidas em nossa memória, num constante ciclo de rememoração e reconstituição por meio da atualização constante do cenário social e cultural. Assim, as variações que ocorrem no âmbito da moda possibilitam a reflexão acerca do contexto social e cultural de determinada época. Da mesma forma, por meio dela é possível preservar a memória, com a continuidade do uso de determinados gostos e estilos, servindo como canal de exteriorização de valores, desejos, costumes de determinado grupo social.

[1] LAVER, 1989: p.

[1] POLAK,1992, 204.

[1] HALBWACHS, 2004: p.41 e 55



 

Autoria:
Aline Leal Fontanella Klemt

Referências

FERRAZA DE LIMA, Laura. Vestida de frivolidades: a moda feminina em suas visões estrangeira e nacional na revista O Cruzeiro de 1929 a 1948. Porto Alegre: UFRGS, 2009 <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/21562/000729453.pdf?sequence=1>. Acesso em 01 dez. 2010).

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Ed. Centauro, 2004.

LAVER, James. A roupa e a moda. Uma história concisa. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares, In: Projeto História. São Paulo: PUC, n. 10, pp. 07-28, dezembro de 1993.

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e Silêncio. In. Estudos Históricos. São Paulo: Cpdoc/FGV, 1983.

WILSON, Elisabeth. Enfeitada de sonhos – moda e modernidade. Rio de janeiro: Edições 70, 1985.

 

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