AUTOFICÇÃO

Definição:

O termo autoficção foi criado por Serge Doubrovsky, que o utilizou em 1977 ao lançar o livro Fils, no qual mescla ficção e realidade ao criar um romance sobre a sua vida. Além do caráter híbrido, a autoficção é considerada uma palavra-chave para gerar tantas outras como “romance falso”, “ego-literatura”, “autobiografia mentirosa”, “viés da autobiografia”, enfim muitos nomes que demonstram a instabilidade que deseja abarcar o eu na escrita da atualidade ou a tentativa de dimensionar a fragmentação do sujeito contemporâneo nesse percurso transcorrido de mais de trinta anos. Muitos autores utilizam a escrita autoficcional para se desdobrarem em múltiplas performances, como Régine Robin, que assume uma da suas três identidades como Rivka (iídiche), Yaël (hebraico) ou Régine (francês). Vincente Colonna particulariza a autoficção como “mitomania literária” ou “fabulação de si”, reiterando que a autoficção nada mais é do que o indivíduo que se ficcionaliza, indicando, assim, uma construção ou desconstrução do sujeito.


 

Histórico: mais que um neologismo, o termo usado por S. Doubrovsky em 1977, pode-se comparar a um desafio encarado frente ao “pacto autobiográfico” de Philippe Lejeune na tentativa de provar que seria possível criar um romance de si pelo “pacto romanesco”. Desde então a autoficção vem se desdobrando em múltiplas formas de escritas de si. Essa forma narrativa não é reconhecida como um gênero, mas para Vincente Colonna, é uma “nebulosa de práticas aparentadas”.

Comentário: muitos escritores de origem judaica, ao narrarem seus testemunhos de vida, usam a autoficção como “recomposição do vivido” nos relatos de pós-guerra. Há uma forte predominância em reconstruir a identidade pela autoficção, por isso também é utilizada por escritores migrantes diante de uma nova cultura; usam-na como reafirmação de identidade do diferente.  No Brasil escritores como Silviano Santiago, Nélida Pinõn, Clarah Averbruck, Santiago Nazarian, entre outros, aderiram à autoficção.


Autoria:
Eunice Machado Gazzo

Bibliografia
COLLONA, Vincent. Autoficcion & autres mythomanies littéraires. France. Éditions Tristam, 2004.

DUARTE, Kelley. Autoficção. In BERND, Zilá, org. Insubmissão e mobilidade: percursos americanos. Porto Alegre: Tomo, 2010. No prelo.
FIGUEIREDO, Euridice. Régine Robin: autoficção, bioficção, ciberficção. Revista Ipotesi. Rio de Janeiro. V.18, 2007. p .21-30.
SANTIAGO, Silviano. Meditação sobre o oficio de criar. Revista Z cultural. Rio de Janeiro: Ano V, n. 1, 2007, p. 1-5.

 

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