MEMÓRIA E PSICANÁLISE

Definição: A teoria psicanalítica tem, como principal interesse, compreender a psique humana através do processo de rememoração das lembranças reprimidas – oriundas de acontecimentos traumáticos – que influenciam nossos pensamentos e comportamentos cotidianos. Pode-se distinguir três níveis de definição do conceito de psicanálise: a) um procedimento de investigação que consiste em evidenciar o significado inconsciente das palavras, das ações, das produções imaginárias, tais como os sonhos, as fantasias e os delírios; b) um método psicoterápico baseado na investigação dos processos mentais, direcionado à interpretação da resistência, da transferência e do desejo; c) um conjunto de teorias psicológicas e psicopatológicas em que se sistematizam dados produzidos pelo método psicanalítico de investigação e tratamento (Freud, 1996; Laplanche, 1992).

 Histórico: Sigmund Freud (1856-1939) foi um neurologista austríaco que criou e defendeu um conjunto de ideias conhecidas como Psicanálise. Sua obra obteve grande repercussão na psicologia e na psiquiatria. Nos primórdios da psicanálise, no qual ainda prevalecia o modelo médico, a busca  pela lembrança traumática referia-se à busca por uma conexão causal, ou seja, uma vez que se chegasse a causa, remover-se-ia o efeito, no caso, o sintoma e o sofrimento. Com o desenvolvimento da teoria, Freud passou a conceber a memória (rememoração) como sendo uma força persistente, que atua a partir de uma experiência. Assim, a memória é compreendida como uma função, pela qual percepções advindas do passado são retidas e/ou reproduzidas, dentro da pessoa agindo no seu presente (Francisco, 2006).

Comentário:  A memória, para a psicanálise freudiana, é um campo de significações construído a partir das experiências vividas e/ou imaginadas, agindo e articulando-se em uma linha de continuidade que pode estar interrompida, em certos momentos, em função dos processos defensivos. Isto significa dizer que muitas das memórias, ditas ‘esquecidas’, encontram-se reprimidas no inconsciente, pois, caso viessem a tona, trariam sofrimento para o sujeito. Lapsos de memória, sonhos e atos falhos revelam, de certo modo, algo que está sob proteção psíquica, submetidos aos diferentes graus da censura que existe entre os sistemas psíquicos e que, via tratamento analítico, por exemplo, pode ser recuperado voltando para o plano da consciência.

Autoria:
Aline Accorssi

Referências

FRANCISCO, Bruno Salésio da Silva. Memória em Psicanálise: passado e futuro produzindo-se.  Conferência Internacional de Clínica Psicanalítica. Psicanálise: Singularidade e Diversidade. Rio de Janeiro, nov. 2006.

FREUD, Sigmund. Dois verbetes de enciclopédia. In:  Obras completas de Sigmund Freud. Vol. 23. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

LAPLANCHE, Jean. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1992

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