MEMÓRIA E PSICOLOGIA ANALÍTICA

Definição/Histórico:

Psicologia Anaítica é o nome da teoria psicológica criada pelo médico suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), que desenvolveu um modelo teórico fisiológico para os processos psíquicos. Ele considerava o inconsciente como um “órgão” psíquico dotado de grande poder de regeneração e autorregulação. Sua ruptura com a Psicanálise Freudiana, em 1912, aconteceu por discordar de Freud quanto a alguns aspectos relevantes de sua teoria da psique; principalmente negava a exclusividade do “dogma sexual” como fator desencadeante de neuroses e considerava os conteúdos psíquicos como simbólicos e não concretos. Os símbolos provêm do inconsciente coletivo, substrato que origina os processos psíquicos. A consciência tem sua gênese no inconsciente (e não ao contrário, como supunha Freud). A psique é uma totalidade dinâmica, que compreende a relação dialética entre consciência (cujo centro é o ego) e inconsciente (cujo centro e também meta de desenvolvimento é o “self” ou “si-mesmo”), dividido em inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. A consciência é o órgão de orientação, tanto no espaço exterior quanto no espaço interior da psique; é dividida em “endopsique” e “ectopsique”. A memória encontra-se na ‘endopsique’, que é a parte “interior” da consciência, a “sombra”, o lado menos conhecido de nós mesmos e que sempre revela algo novo a nosso respeito, atestando que uma parte de nossa personalidade está sempre em formação. O primeiro elemento reconhecível da “endopsique” é a memória (lembranças ou recordações). Ela é feita de coisas que vamos armazenando, cuja função é ligar-nos ao que já desapareceu da consciência, por se tornarem subliminares (supressão) ou rejeitadas (repressão). É uma faculdade que temos de reproduzir os conteúdos do inconsciente pessoal (aquele formado a partir do nascimento) ao longo da vida e tem seu correspondente orgânico em regiões cerebrais. Não somos capazes de num só instante reproduzirmos a totalidade de nossas lembranças; tal representação global se daria apenas em momentos de profunda tensão psíquica, como num acidente.

Comentário: Jung (2009) postula a “função criadora de símbolos” na psique humana: a memória revela-se em imagens psíquicas e pode ser evocada por todo tipo de experiência: sensorial (um cheiro, uma música, por exemplo), o rememorar voluntário (como na psicoterapia), evocação inconsciente. Há duas formas de “esquecimento” nos processos psicológicos: supressão (não intencional) e repressão (intencional consciente). A memória atua em ambas. A repressão de conteúdos psíquicos pode levar aos transtornos de personalidade (neuroses), encarados como exageros patológicos de ocorrências normais:

O ato de esquecer é um pro­cesso normal, em que certos pensamentos cons­cientes perdem a sua energia específica devido a um desvio da nossa atenção. Quando o interesse se desloca, deixa na sombra as coisas de que anteriormente nos ocupávamos, exatamente como um holofote ao iluminar uma nova área deixa outra mergulhada em escuridão. Isto é inevitável, pois a consciência só pode conservar ilu­minadas algumas imagens de cada vez e, mesmo assim, com flutuações nesta claridade. Os pensa­mentos e idéias esquecidos não deixaram de existir. Apesar de não se poderem reproduzir à vontade, estão presentes num estado subliminar — para além do limiar da memória — de onde podem tornar a surgir espontaneamente a qual­quer momento, algumas vezes anos depois de um esquecimento aparentemente total (JUNG, 2009, p. 29).



 

Autoria:
Nádia Maria Weber dos Santos

 

Bibliografia

JUNG, C.G. Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

______. O homem à descoberta de sua alma. Porto: Martins Tavares, 1972.

______. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

 

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