REPRESENTAÇÕES INDIVIDUAIS, COLETIVAS, SOCIAIS

Definição:

O conceito de representação coletiva nasceu na sociologia, nos estudos de Émile Durkheim (1870-1940) que tratavam sobre a teoria da religião, da magia e do pensamento mítico. Esse conceito foi concebido com ênfase à vida coletiva, realidade sui generis, integrada pelos fatos sociais. Émile Durkheim afirma que as categorias básicas do pensamento teriam origem na sociedade e que o conhecimento só poderia ser encontrado na experiência social, ou seja, a vida social seria a condição de todo pensamento organizado e vice-versa. Nessa direção, o sociólogo teoriza que a associação de indivíduos produz um todo, uma síntese, que se sobrepõe às partes ou as consciências individuais que o formam. Na vida coletiva, as representações coletivas mantêm a marca do substrato social que lhes dão origem, mas aderem a uma vida independente ao reproduzirem-se e ao se misturarem, um novo conhecimento é formado, que supera a soma dos indivíduos e favorece uma recriação do coletivo. Durkheim ao enfatizar as representações coletivas estabelece uma divisão como forma de dar conta de um todo, mas se fundamentava em uma concepção de que as regras que comandam a vida individual (representações individuais) não são as mesmas que regem a vida coletiva (representações coletivas). Em suma, para o sociólogo a individualidade humana se constitui a partir da sociedade. Por sua vez, o psicólogo social Serge Moscovici (1928-) avançará sobre o conceito de representações coletivas proposto por Durkheim, partindo do princípio de que se nas sociedades primitivas as representações coletivas são o que fundam e são os veículos da consciência coletiva; nas sociedades complexas são as representações sociais que determinam a consciência social. O ponto de divergência está na afirmação de Durkheim de que uma função primordial da representação coletiva seria a transmissão da herança coletiva dos antepassados, que acrescentariam às experiências individuais tudo que a sociedade acumulou de sabedoria e ciência ao passar dos anos. Para Moscovici, o indivíduo tem papel ativo e autônomo no processo de construção da sociedade, da mesma forma que é criado por ela; e não somente trata-se de uma herança de inúmeras gerações passadas transmitida de forma determinista e estática. Assim, enquanto para Durkheim as representações coletivas são concebidas como formas de consciência que a sociedade impõe aos indivíduos, para Moscovici, as representações sociais, pelo contrário, são geradas pelos sujeitos sociais. Outro ponto de divergência entre as duas concepções está no fato de que o conceito de representação coletiva em Durkheim implica uma reprodução da ideia social; e, na teoria das representações sociais (MOSCOVICI), o conceito de representação social é concebido como uma produção e desenvolvimento de um caráter social, sem que seja imposta externamente às consciências individuais, tal como proposto por Durkheim.



 

Histórico: Serge Moscovici, autor da teoria das representações sociais, afirma o conceito de representação social ter origem na Sociologia e na Antropologia, através de Durkheim e Lévi-Bruhl. Também contribuíram para a criação da sua teoria, a teoria da linguagem de Saussure, a teoria das representações infantis de Piaget e a teoria do desenvolvimento cultural de Vigotsky. Na área da Psicologia Social destaca-se a obra de Denise Jodelet (1985), na qual  a autora avança sobre o conceito, afirmando que as representações sociais são modalidades de “conhecimento prático” orientadas para a comunicação e para a compreensão do contexto social, material e ideativo em que vivemos. São, consequentemente, formas de conhecimento que se manifestam como elementos cognitivos — imagens, conceitos, categorias, teorias —, mas que não se reduzem apenas a eles. Sendo socialmente elaboradas e compartilhadas, as representações sociais contribuem para a construção de uma  realidade comum.

Comentário: os conceitos abordados devem ser  percebidos dentro de uma perspectiva transdisciplinar, uma vez que as representações sociais surgem como um campo  multidimensional, possibilitando questionar a natureza do conhecimento e a relação indivíduo-sociedade. Por sua vez, a perspectiva das representações sociais dá ênfase  ao papel de ação dos atores sociais na sua produção e transformação. Entretanto, é necessário ter em conta, por um lado, a relação entre as representações sociais e as configurações culturais dominantes, e por outro, a dinâmica social no seu conjunto. A conjugação desses fatores ajuda a compreender as pressões para a hegemonia e a consequente retificação de certas representações sociais.



 

Autoria:
Jeanine Bender e Maria Cristina Caminha de Castilhos França

Referências:

DURKHEIM, Émile. Sociologia e Filosofia. Tradução Fernando Dias Andrade. São Paulo: Martin Claret, 2009.

DURKHEIM, Émile. As formas elementares de vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. Trad. por Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. (org.). As Representações sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 2002, p.17-44.

MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Trad. por Pedrinho A. Guareschi. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

 

 

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