CAPITAL SIMBÓLICO

Definição:

Capital simbólico é o conjunto de propriedades (força física, maneira de se portar, de se vestir e de se expressar, etc.) que, percebidas e valorizadas por determinados agentes sociais, dotam aquele que as possui de um poder intangível e socialmente eficaz.



 

Histórico/Comentário: Émile Durkheim, Marcel Mauss e Max Weber; vários autores clássicos das ciências sociais se interessaram por aquilo que, mais tarde, Pierre Bourdieu denominaria “capital simbólico”. Em Durkheim e Mauss, é o termo mana, corrente nas ilhas Trobriand (arquipélago localizado na costa oriental da Nova Guiné), que indica a potência espiritual de um dado grupo ou objeto e cuja circulação seria fundamental para o estabelecimento e manutenção dos laços sociais. Difuso, móvel e de usos variados, o mana de um objeto, grupo ou indivíduo é o vetor de sua eficácia simbólica: algo ou alguém que dispõe de mana é imediatamente valorizado e prestigiado, seja em virtude de suas propriedades, seja em razão de suas práticas e ações. Por sua vez, Max Weber se servirá da noção de carisma em suas análises políticas e religiosas. Para o cientista social alemão, o carisma é a “crença em uma qualidade extraordinária” de um personagem, “que é, por assim dizer, dotado de forças ou de propriedades sobrenaturais sobrehumanas”, ou ainda é “considerado como um enviado de Deus” (WEBER, 1991, p. 140). Ao propor a noção de capital simbólico, Pierre Bourdieu não renega os textos clássicos. Como ele propõe no livro Razões práticas:

o que eu chamo de capital simbólico, atribuindo assim um sentido rigoroso ao que Max Weber designava pela palavra carisma, conceito puramente descritivo, que ele tomava explicitamente – no início do capítulo sobre a religião em Wirtschaft und Gesellschaft – como equivalente ao que a escola durkheimiana chamava de mana. O capital simbólico é uma propriedade qualquer – força física, riqueza, valor guerreiro – que, percebida pelos agentes sociais dotados das categorias le percepção e de avaliação que lhes permitem percebê-la, conhecê-la e reconhecê-la, torna-se simbolicamente eficiente, como uma verdadeira força mágica: uma propriedade que, por responder às ‘expectativas coletivas’, socialmente constituídas, em relação às crenças, exerce uma espécie de ação à distância, sem contato físico. Damos uma ordem e ela é obedecida: é um ato quase mágico (BOURDIEU, 1996, p. 170).



 

Autoria:
Lucas Graeff

Referências

BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. 3. ed. Campinas: Papirus, 1996.
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. v. 1. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1991.

 

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