A ARTE DA MEMÓRIA

Definição:

A “arte da memória” é um conjunto de regras e técnicas de memorização de informações, que visa sua rápida e eficiente reprodução para diversos fins e usos. Da oratória política ao teatro, da poesia mítica às narrativas militares, a fala bela e organizada submetia-se, entre os antigos, a um regime do bem dizer que, por sua vez, dependia estritamente da recordação dos discursos previamente organizados para a potencialização de seus efeitos persuasivos. A memória natural, originária das estruturas psicossociais do pensamento, apresenta uma disposição para o esquecimento e a desorganização fragmentária. Já a memória artificial é organizada e disposta, através de treinos e técnicas mnemônicas de diversas ordens, para acionamentos rápidos e fiéis de lembranças consideradas valiosas. A arte da memória envolve o confronto entre ambas, que também se complementam. Na análise de Yates (1966), quando trata do método Loci de Simônides, a arte da memória consistia na associação das partes de um discurso a um dado trajeto a ser percorrido mentalmente pelo orador, criando, assim, a vinculação entre palavras ou orações e lugares naturais ou mesmo arquitetônicos.

 


 

Histórico: na mitologia grega, a deusa Mnenosyne representava a natureza divina que concedia aos poetas e oradores a faculdade de lembrarem o passado e de transmiti-lo aos mortais. A “arte da memória” inicia na Grécia Antiga, com Simônides de Céos, poeta e pintor do século V a.C. que parece ter sido o primeiro a estabelecer os princípios, ou a definir as regras dessa arte.  Posteriormente, sofre influências de diferentes tendências filosóficas de textos latinos da retórica, na Antiguidade Clássica, pela escolástica na Idade Média.   Já, no Renascimento, a arte da memória passa a investigar a ocorrência de sistemas de significação supostamente ocultos em mensagens e signos naturais, aproximando-se da tradição hermética. Para Giordano Bruno (1548-1600), a arte da memória permitia ”[...] imprimir na memória imagens arquetípicas básicas, tendo como lugar-sistema a própria ordem cósmica” (YATES, 1966).  Com a expansão da imprensa, essas técnicas mnemônicas de reprodução e transmissão de textos e discursos foram, aos poucos, sendo adaptadas a novos métodos de memorização do conhecimento.  Elas agregaram-se a novos recursos de informação considerados valiosos por sua contribuição para a vida prática, tais como: palavras, imagens e sons, cujo  acesso se dá através de  buscas específicas na memória computacional.

 

Comentário: a importância da arte da memória precisa recuar ao tempo em que se acreditava que grande parcela de informações pudesse ser assimilada por indivíduos especialmente treinados para isso. Mesmo assim, essas técnicas de memorização foram evoluindo e aperfeiçoando-se até se incorporarem aos novos recursos da produção do conhecimento. Simônides sobrevive como um elo que vincula a arte da memória às tendências contemporâneas na ciência da computação, como a inteligência artificial e a memória virtual, com grande capacidade de armazenagem de dados e facilidade de acesso rápido às informações.



 

 

Autoria:
Marta Ivone Gonçalves da Silva

Referência
YATES, F. A. A arte da memória. Campinas: UNICAMP, 2007.

Bibliografia
RICOEUR, PAUL. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: UNICAMP, 2008.
[S.I.A]. A arte da memória e o método científico: da memória artificial a inteligência artificial. [pdf] Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n.3, 1989, p. 146-152. Disponível em: <http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/memoria/memoria138.pdf>. Acesso em: 20/11/2010.

 

Still quiet here.sas

Deixa um comentário