IMAGINÁRIO

Definição: Gilbert Durand (2001) afirma que todo imaginário humano articula-se por meio de estruturas plurais e irredutíveis, limitadas a três classes que gravitam ao redor dos processos matriciais do “separar” (heróico), “incluir” (místico) e “dramatizar” (disseminador), ou pela distribuição das imagens de uma narrativa ao longo do tempo. (p. 40).

O imaginário, nas suas manifestações mais típicas, sejam elas o sonho, o onírico, o rito, o mito, a narrativa da imaginação, entre outras, e “em relação lógica ocidental de Aristóteles, quando não a partir de Sócrates, é alegórico” (DURAND, 2001, p. 87). Patrick Legros, em Sociologia do imaginário, define três significados fundamentais ao conceito de ‘imaginário social’: a) Dimensão mítica da existência social: é ela que inspira as mitoanálises sociológicas e conduz ao esclarecimento dos mitos dominantes de uma determinada época, de uma cultura, de uma nação, de uma geração, literária ou artística, de uma classe social; b) Imaginação de uma outra sociedade: ela está em marcha nas utopias, nos milenarismos, nas ideologias revolucionárias. É o imaginário da esperança [...]; c) Imaginário mais moderno e cotidiano (recente): visto nas práticas de todos os dias: paisagem urbana, objetos familiares, encontros fortuitos, percursos usuais, distrações populares” (Stronneau, Apud Legros et al, 2007, p.11-12).

Imaginário e religião, por conseguinte, por terem em comum uma característica fundamental – a atividade simbólica -, são dois domínios que se aproximaram, assimilando-se mutuamente. “Em situações de crises, o imaginário coletivo tomou da matriz do ‘imaginário religioso’ para se exprimir de três maneiras possíveis: o messianismo, a possessão e a utopia” (Laplantine, Apud Legros et al, 2007, p.218). Campo importante também do imaginário religioso é o sincretismo, visto que as religiões caracterizam-se por serem compósitas e heterogêneas, no sentido de origem múltipla. Finalmente, os percursos do imaginário relacionam-se com importantes termos de referência, sejam eles: 1) Mentalidade: estudo da História por meio das atitudes psicossociais e seus efeitos sobre os comportamentos; 2) Mitologia: relatos que constituem um patrimônio de ficções nas culturas tradicionais para traduzir de forma simbólica e antropomórfica crenças sobre origens, natureza, cosmologia, psicologia e história; 3) Ideologia: interpretação global e dogmática de um domínio da vida humana e suas explicações; 4) Ficção: conotação de irrealidade que conserva, na filosofia analítica e na semiótica, a oposição real-fictício; 5) Temática: acesso ao imaginário textual através da matéria e das formas expressivas das obras.

 

Histórico: Gaston Bachelard (1884-1962) parte das heranças estéticas e dos conteúdos imaginários para construir uma imagem literária na qual a imagem surge para iluminar a própria imagem. Com a onipresença da imagem na vida mental, atribui a esta um dimensão ontológica e uma criatividade onírica para relacionar-se de forma poética com o mundo, a partir de representações imagéticas carregadas de afetividade. Já Gilbert Durand (1921-), por sua vez, amplifica as aquisições de G. Bachelard e as situa no nível da antropologia geral, na esteira de Ernst Cassirer (1874-1945), ao sistematizar a ciência do imaginário e mostrar como as imagens se enxertam nesse trajeto, que começa num plano neurobiológico para estender-se ao plano cultural. “O imaginário, assim enraizado, não se desenvolve, porém, em torno de imagens livres, mas lhes impõe uma lógica, uma estruturação, que faz do imaginário um “mundo” de representações” (LEGROS, 2007, p. 20). E Paul Ricoeur (1913-2005), através da filosofia da linguagem, privilegia a compreensão e a interpretação dos signos: “A hermenêutica valoriza, pois, um tipo de representações que escapa à imediaticidade e à transparência e exige um engajamento ativo do sujeito na exploração dos planos mediatos” (LEGROS, 2007, p. 20). Assim, para tornar inteligível a imagem, deve-se apreendê-la indiretamente, penetrá-la em sua profundidade e interpretar seus diferentes níveis para perceber seus sentidos latentes.  Comentário: o imaginário apresenta-se como um conjunto de produções, mentais ou materializadas, relacionado à função simbólica e à configuração de sentidos. Como definição, perpassa diversos autores e enfoques ao longo da história – mas permanece como fundamento da construção da identidade humana e social, assim como base de ações e comportamentos individuais e coletivos.

Autoria:

Luciana Éboli

 

Referências

DURAND, Gilbert. O imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. Rio de Janeiro: DIFEL, 2001.

____________. As estruturas antropológicas do imaginário. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

LEGROS, Patrick et al. Sociologia do imaginário. Porto Alegre: Sulina, 2007.

WUNENBURGER, Jean-Jacques. O imaginário. São Paulo: Loyola, 2007.

 

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