TECNOLOGIA SOCIAL

Definição: No Brasil, tem-se como referência conceitual de Tecnologia Social (TS) aquela que “compreende produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social” (RTS, 2009).  A palavra tecnologia, como sendo um conjunto de conhecimentos, processos e métodos empregados em diversos ramos, pode ser definida, também, como uma atividade socialmente organizada, baseada em planos e de caráter prático (BAUMGARTEN, 2006). Ao empregarmos o complemento social, entende-se que esse conjunto de conhecimentos, processos e métodos devam estar ao dispor da sociedade visando efetivação e expansão de direitos, assim como a inclusão social, o desenvolvimento econômico-social e ambientalmente sustentável.

Diz-se que é um processo conceitual que está em permanente construção, pois cada TS deve ser definida de acordo com o contexto, pela relação particular da tecnologia com a sociedade e envolvimento dos atores interessados (FONSECA,2010). As reflexões sobre o marco analítico conceitual de TS, fazem referência à mesma como sendo um conjunto de soluções sociotécnicas para um determinado problema, de natureza também sociotécnica (DAGNINO, 2004).

Histórico:  A TS surge no Brasil, no início da primeira década do século XXI, como uma tecnologia alternativa à convencional. Diferentes atores sociais vinculados as organizações da sociedade civil, ao Estado, aos movimentos sociais, às universidades, entre outros, compartilharam  da ideia de disseminarem o desenvolvimento de uma tecnologia que seja capaz de respostas possíveis para o atendimento das demandas sociais.

O marco analítico conceitual  de TS, tem sua vertente no que se chamou no ocidente de Tecnologia Apropriada (TA), cujo berço seria reconhecido na Índia do final do século XIX. Naquela época, o pensamento dos reformadores estava voltado para a reabilitação e o desenvolvimento de tecnologias tradicionais, praticadas nas próprias aldeias e que pudessem se contrapor ao domínio britânico. Gandhi (entre 1924 e 1927) dedicou-se a construção de programas, visando à popularização da fiação manual realizada em uma roca de fiar e que até hoje é reconhecida como o primeiro equipamento tecnologicamente apropriado, o chamado Charkha. Este foi um movimento de luta contra a injustiça social e o sistema de castas que se perpetuava na Índia, despertando naquela população, a consciência política sobre a necessidade de auto-organização do povo e da renovação da indústria nativa hindu, o que pode ser avaliado pela significativa frase por ele cunhada: “produção pelas massas, não pela produção em massas” (DAGNINO, 2010). Tratar sobre a historicidade da TS significa abordar processos que, concomitantemente, se inserem na agenda contemporânea do conhecimento e na mais antiga das intenções de superação da pobreza na história da humanidade; é também tratar sobre as ações concretas e os resultados alcançados, por meio do trabalho, de pessoas que resolveram problemas inspirados pela sabedoria e mobilização  popular e, em algumas situações, com o apoio de pesquisadores.

Comentário: um dos objetivos da TS é reverter a tendência vigente da tecnologia capitalista convencional que tem como pressuposto reforçar a dualidade desse sistema. A TS está voltada para a “produção coletiva e não mercadológica” e, também, vincula-se à realidades locais, de modo que possa gerar respostas mais adequadas à determinadas demandas sociais que emergem em um contexto sócio-histórico. A capacidade de inovação de uma TS, está na sua capacidade de reproduzir-se e difundir-se coletivamente, suscitando processos de transformação social que incidem na melhoria das condições de vida de cidadaõs de direito.

Autores:
Rosa Maria Castilhos Fernandes
Aline Accorssi

Referências

BAUMGARTEN, Maíra. Tecnologia. In: CATTANI, Antonio & HOLZMANN, Lorena. Dicionário de Trabalho e Tecnologia. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2006, p. 288- DAGNINO, Renato; BRANDÃO, Flávio; NOVAES, Henrique. Sobre o marco analítico-conceitual da tecnologia social. In: MELLO, Claiton (orgs). Tecnologia Social: uma estratégia para o desenvolvimento. Fundação Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2004. p.15-64.

FONSECA, Rodrigo.Ciência, Tecnologia e Sociedade. In: Tecnologia Social e Desenvolvimento Sustentável. Brasília:Rede de Tecnologia Social, 2010.p.71-77.

REDE DE TECNOLOGIA SOCIAL, 2009. Disponível em: www.rts.org.br .

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