MEMÓRIA E ESQUECIMENTO

“[...] esquecemos para poder pensar, e esquecemos para não ficar loucos [...]”

(IZQUIERDO, 2004, p.51)

Definição: esquecer é selecionar o que iremos armazenar na mente ou não. Na verdade, é separar o que pode ser guardado e o que não vai servir; o que não dá para fazer conexão é extinguido. Esquecer é uma arte arquitetada pelas sinapses; as ligações que vamos realizando ao longo da vida no cérebro. Apesar de Izquierdo fazer referência contrária: “Não constitui uma arte, a arte radica principalmente na prática reiterada da memória para impedir o esquecimento” (2004, p. 22). Existindo aí uma parte consciente e outra até inconsciente de armazenamento ou exclusão de informações. Para Ricoeur, esquecimento pressupõe memória e fidelidade ao passado. Portanto, esquecimento é “dano, fraqueza, lacuna” (2007, p. 424).


Histórico: o esquecimento é dividido, pelos autores, de várias formas, conforme se apresenta no indivíduo. Izquierdo traz o esquecimento dividido em quatro partes: Extinção, Repressão, Bloqueio e Deterioração. A extinção e a repressão são formas de esquecimento em que as memórias não estão inacessíveis, mas podem ser reativadas quando se fizer necessário. Já no bloqueio e na deterioração as memórias desapareceram; é a perda completa da informação. O autor também trata do esquecimento como ferramenta primordial para a memória de trabalho, aquela ativada para atividades cotidianas rápidas, e armazenadas por um curto espaço de tempo. Da mesma forma, o esquecimento ocorre em função de nossos estados de ânimo e psicológicos, anulando certas imagens mentais. Segundo Ricoeur, esquecimento como o inimigo número um da memória se divide em dois tipos, o que ocorre por apagamento dos rastros e o esquecimento de reserva. O autor fala de três tipos de rastros: o rastro escrito ou documental, o rastro psíquico ou impressão, e o rastro cerebral ou cortical; e três formas de esquecimento: por apagamento dos rastros corticais, sendo a memória impedida de “funcionar”, de aparecer, por desaparecer; por manipulação da memória, sendo esta levada a atitudes, a apagamentos obrigados, a esquecimentos de detalhes de interesse, etc.; e, por último, o esquecimento comandado, sendo expressa a ordem de que a melhor saída, muitas vezes, por um bem geral, é esquecer.

Comentário: o esquecimento em si surge pela atrofia das sinapses entre as células cerebrais. O não-uso, a falta de conexões, imaginações, leituras, movimentações da memória é o principal fator a desencadear o esquecimento. Tanto quanto lembrar ou fixar na memória, o esquecimento é salutar. Prática decisiva, forjada com maestria pelo próprio cérebro mesclada a influências externas. O esquecimento brinca com o lado ardiloso do inconsciente, seleciona vivências, impressões e omite lembranças, encobre para manter coerência de pensamentos. Também, com maestria trabalha o consciente para dançar conforme a sinfonia da manipulação, de alguma manipulação, ideológica. E sempre é coerente. “Em resumo, o esquecimento é deplorado, da mesma forma que o envelhecimento ou a morte: é uma das faces do inelutável, do irremediável” (2007, p. 435).

Autoria: Taís Ávila de Almeida

 

Referências

IZQUIERDO, Ivan. A arte de esquecer. Cérebro, memória e esquecimento. Rio de Janeiro: Vieira e Lent, 2004.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. São Paulo: Unicamp, 2007.

 

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