MONUMENTO HISTÓRICO

Definição: o século XIX trouxe os conceitos de “monumentos históricos” e “monumentos nacionais”. A palavra monumento deriva do verbo latino “monere” que significa lembrar. Assim, os monumentos eram tudo aquilo que permitia relembrar épocas passadas. Os monumentos históricos estavam ligados a eventos marcantes da História Mundial, enquanto que os monumentos estavam ligados à História do país em que se encontrava.


Histórico: conforme Choay (2001, p. 31), pode-se situar o nascimento do monumento histórico na Roma de 1420; e sua difusão fora da Europa a partir da segunda metade do século XIX. Monumento histórico, à luz do romantismo do século XIX, como “arquitetura como espaço funerário e memorial da morte ou do fracasso heróicos”, cuja função central de monumentalidade especificamente “garante a presença dos mortos cujo sacrifício é indispensável a uma nova cultura” (Huyssen, 2000, p. 60). O monumento histórico, de qualquer modo, “se insere em um lugar imutável e definitivo num conjunto objetivado e fixado pelo saber” (CHOAY, 2001, p. 27), e sua conservação tem as características da conservação de documentos históricos. Seu valor se aproxima de um valor arqueológico, como se fosse o testemunho de outra sociedade. É o seu valor histórico que prepondera sobre seu valor de rememoração intencional ou seu valor de uso, por exemplo, e reside no fato de que ele “representa para nós um estado particular, de alguma forma único, no desenvolvimento de um domínio da criação humana (RIEGL, 1984, p. 73). A lógica do valor histórico preconiza, portanto, a conservação integral da obra, a interrupção da ação do tempo, tanto quanto possível, para manter intactas as características da obra vista como documento. A recuperação dessa ação do tempo, no entanto, só deve ser efetuada sobre cópias ou reconstituições, evitando justamente alterar o documento em si. É a partir desse valor que são produzidos os trabalhos científicos acerca dos monumentos, e Riegl reconhece que ele contribui de alguma forma para ajustar o valor de Antiguidade, à medida que cria uma determinada expectativa quanto ao grau de degradação do monumento em relação à sua idade. Sua importância é reconhecida através da alteridade: outros tempos, outra sociedade, outro povo. A construção da identidade é feita a partir de uma representação arquitetônica do passado, e não necessariamente da presença em um espaço. Além disso, a qualificação de monumento histórico é atribuída posteriormente ao edifício. É preciso menos vivenciá-lo do que referenciá-lo. Essa chancela documental que o monumento histórico exige pode restringir-se a uma singela placa à porta de um edifício residencial, mas pode estender-se por uma vasta bibliografia. Não é compartilhada por toda a sociedade, mas negociada por grupos de interesses diversos.

Comentário: Riegl (1984) questiona a divisão então existente entre monumentos históricos e artísticos – como se “histórico” ou “artístico” fossem características intrínsecas e excludentes. Percebe que as diferenças se dão de acordo com os valores da obra, a partir dos quais estabelece as particularidades de tratamento para cada caso para fins de preservação. Esses valores se dividem entre os valores de rememoração e os de contemporaneidade. A preponderância de determinado valor em relação aos outros e a atribuição do valor em si são dados pelo sujeito. Acreditamos que esses fenômenos de atribuição de valor desempenham um papel crucial nas políticas de patrimônio atuais, em especial pelo fenômeno de ressemantização. Partindo então do conceito de “monumentos artísticos e históricos”, por ser a denominação austríaca oficial da época, Riegl (1984, p. 38) considera que a distinção entre monumento histórico e artístico não é pertinente, porque todo monumento artístico é um monumento histórico, ao menos da história da arte; e todo monumento histórico é um monumento artístico em alguma medida. O que faz com que seja considerado histórico ou artístico, ou que sequer seja considerado monumento, é a capacidade evocativa da obra; por exemplo, sua importância artística pode não ser tão grande quanto a de algum outro monumento para representar as mesmas coisas.

Autoria: Ana Lígia Trindade

 

Referências

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001.

HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.

RIEGL, Aloïs. Le culte moderne des monuments: son essence et sa génese. Paris: Éditions du Seuil, 1984.

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