MATÉRIA E MEMÓRIA (HENRI BERGSON)

Definição: Matéria e memória é o título do livro escrito por Henri Bergson e publicado pela Presses Universitaires de France em 1939. Ao definir o papel do corpo na vida do espírito pela substituição de uma distinção espacial (matéria extensa e alma inextensa) por uma distinção temporal (percepção e memória), Berson propõe uma superação do dualismo cartesiano e do idealismo kantiano.


Histórico/Comentário: para Bergson, o processo de percepção se realiza através de dois circuitos. O primeiro, denominado “imagem-cérebro-ação, é uma ação sobre o mundo. Nesse caso, as sensações extrapolam as reações imediatas do organismo e são registradas pelo cérebro, retornando em forma de ação sobre o meio. O segundo circuito é denominado “imagem-cérebro-representação. Nesse sentido, a percepção figura como uma imagem que permanece ou “dura” no cérebro. Os circuitos imagem-cérebro-ação e imagem-cérebro-representação dependem de um esquema corporal. Para Bergson, o corpo recebe sensações e deve agir. Porém, a percepção transforma a sensação em imagens através do esquema corporal atual. Na medida em que essas imagens se associam à imagem atual, a percepção se desloca das sensações para o interior da memória. Assim, se num primeiro momento a memória permite que determinadas imagens durem na consciência facilitando a ação imediata, noutro momento, as imagens atuais se associam a lembranças anteriores, provocando a experiência de duração. Esses dois momentos ou funções são diferenciados em Bergson, que os denomina respectivamente memória-ação e a memória-lembrança. A “memória-ação é fundamental para o agir no mundo. Durante sua vida, uma pessoa irá passar por diversas experiências: se for criança, a maioria das experiências serão novas; se for velha, as experiências tendem a se repetir. Na medida em que essa pessoa repete experiências, sua memória permite que ela se habitue às situações e aja sobre o mundo. Trata-se, portanto, de uma memória prática e automatizada pela experiência. A “memória-lembrança, para Bergson, é a própria fonte do espírito. Dirá o autor “uma consciência que, desligada da ação, mantivesse sob o olhar a totalidade de seu passado, não teria nenhuma razão para se fixar sobre parte desse passado em vez de uma outra” (1999, p. 196). Logo, a matéria – que produz os estímulos para ação ou representação – é, sob dois aspectos, bloqueadora e promotora das lembranças. O acesso à totalidade das imagens ou memórias depende, simultaneamente, da consciência – na medida em que as lembranças são associadas em cadeia a partir de um ponto de origem – e do devaneio ou sonho – isto é, do desligamento com a matéria.

Autoria: Lucas Graeff

 

Referências

BERGSON, Henri. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 291p.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade. Lembranças de velhos. São Paulo, Queiroz ED. Ltda. e EDUSP, 1987.

COSER, Lewis. Introduction. In: HALBWACHS, Maurice. On collective memory. Chicago: The Universiy of Chicago Press. 1992.

 

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