Definição:

O termo transdisciplinaridade está marcado pelo prefixo trans, latino como os demais elementos que o constituem. O prefixo trans comunica especialmente as noções de ultrapassagem e de transposição. Carrega os significados de além de, para lá de, depois de. Em transdisciplinaridade, aponta principalmente ao sentido de além de. Pela concepção transdisciplinar, as disciplinas devem unir-se para conseguir ultrapassagens que unitariamente nunca conseguirão. Mono ou uni, multi ou pluri ou poli, inter e transdisciplinaridade são metodologias de estudo para obtenção do universo que constituímos e o que nos entorna.

Histórico: desde a Antiguidade, do pouco que sabemos, os homens já debatiam a complexidade da realidade. Outras etapas da história da humanidade também contribuíram com essa discussão. O Romantismo, instaurador da Modernidade entre nós, pensava em mais dimensões do que a unicidade da realidade. O Simbolismo, conjugado ao Impressionismo e o Expressionismo, desfigurou ainda mais a anterior importância do mundo concreto-sensorial. Nas primeiras décadas do século 20, as concepções sobre o mundo se mostraram especialmente ecléticas. Depois vieram as vanguardas expressivas, entre as quais a do Surrealismo. Nos anos 40, nas ciências físicas, desvelava-se a mecânica quântica, com que se fortaleceu a tridimensionalidade da realidade, que fortaleceu sobremaneira a concepção transdisciplinar do conhecimento. Instala-se, como pressuposto da transdisciplinaridade, a pergunta de Basarab Nicolescu: “Como se explica que a proliferação acelerada das disciplinas torne cada vez mais ilusória toda unidade do conhecimento?” (2008, p. 16). Começava-se a buscar, portanto, entroncamentos produtivos entre as disciplinas, para atingir com mais propriedade o que se costuma designar realidade e ou verdade. Segundo Nicolescu, “o maior impacto cultural da revolução quântica é [...] o de colocar em questão o dogma filosófico contemporâneo da existência de um único nível de Realidade” (2008, p. 30). Ainda segundo esse estudioso, “uma coletividade – família, empresa, nação – é sempre mais que a simples soma de suas partes. Um misterioso fator de interação, não redutível às propriedades dos diferentes indivíduos, está sempre presente nas coletividades humanas” (2008, p. 28). “O transcultural é a condição de ser da cultura” (2008, p. 119). “A transdisciplinaridade, como o prefixo trans indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento” (2008, p. 52-53).

Comentário: pode-se constatar a densidade e a propriedade dos estudos da transdisciplinaridade em O manifesto da transdisciplinaridade (1994) de Basarab Nicolescu. Essa obra é fruto de muitos estudos de vários estudiosos, ao longo do tempo. Nas artes, como a literatura, na segunda metade do século 20, diferenciava-se, com certa precisão, realidade de real. Nessa concepção, o real é constituído da realidade em conjunto com o imaginário. Sobre isso se pode ler, p. ex., La nueva novela hispanoamericana (1969) de Carlos Fuentes.

Autoria:
Cicero Galeno Lopes.

Referências

FUENTES, Carlos. La nueva novela hispanoamericana. México: J. Mortiz, 1969.

NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade (1994). Trad. por Lucia P. de Souza. 3. ed. São Paulo: Triom, 2008.

Bibliografia

SOUZA, Ielbo M. L.; FOLLMAN, José I. (org.). Transdisciplinaridade e universidade: uma proposta em construção. São Leopoldo: Unisinos, 2003.