Definição:

Entende-se por “práticas alimentares” todas as práticas relacionadas com a alimentação, desde a escolha dos alimentos até sua preparação e consumo. Nessa perspectiva, compreendemos a seleção, o consumo, a produção das refeições, o modo de preparação, a apresentação, a distribuição e a ingestão. Dessa forma, inclui o que se planta, o que se compra, o que se come, como se come, onde se come, com quem se come, em que frequência, em que horário, em que combinação (alimentos e receitas que compõem cada refeição) (GARCIA, 2005; GARCIA 1999; ROTEMBERG, 2004).

Histórico: as práticas alimentares acompanham a história da alimentação, sendo que estas fazem parte da cultura de base de todos, pois a cada descoberta de novos alimentos para o consumo humano, ou de como prepará-los, surgem diferentes maneiras de preparação, apresentação, distribuição e ingestão. Saber qual foi o primeiro alimento e onde surgiu por primeiro na humanidade torna-se uma tarefa árdua, uma vez que diferentes locais se apresentam como os pioneiros. A verdade é que é difícil provar todas as paternidades consagradas, mas pode-se aceitar que grandes personagens tenham propiciado a adoção de um alimento, de um preparo, de um novo gosto. Também é verdade que muitos outros autores irão paternizar novas receitas, preparações e combinações que irão influenciar as práticas alimentares. No Brasil um dos nomes clássicos de estudo sobre a história da alimentação é Luís da Câmara Cascudo com sua vasta literatura, onde traduz e deixa muitos registros das práticas alimentares e das influências gastronômicas ao nosso país (CASCUDO, 2004; FLANDRIN, 1998).

Comentário: com a ampla terminologia e conceitos no campo da antropologia da alimentação verifica-se que existem algumas confusões entre os termos “prática alimentar” e “comportamento alimentar”. Como descrito acima considera-se por “práticas alimentares” os aspectos concretos da alimentação, empiricamente observáveis. O conceito “comportamento alimentar” engloba o que se entende por “práticas alimentares”, mas não o inverso. A partir dessas considerações o comportamento alimentar é definido como procedimentos relacionados às práticas alimentares de grupos humanos (o que se come, quanto, como, quando, onde e com quem; a seleção de alimentos e os aspectos referentes ao preparo da comida) associados a atributos socioculturais, ou seja, aos aspectos subjetivos individuais e coletivos relacionados ao comer e a comida (alimentos e preparações apropriadas para situações diversas, escolhas alimentares, combinação de alimentos, comida desejada e apreciada, valores atribuídos a alimentos e preparações e aquilo que pensamos que comemos ou que gostaríamos de ter comido) (GARCIA, 2005).

Autoria:
Josiane Siviero

Referências

CASCUDO, LC. História da alimentação no Brasil. São Paulo:Global, 2004.

FLANDRIN, JL; MONTANARI, M. História da alimentação. Trad. por Luciano Vieira Machado, Guilherme JF.Teixeira). São Paulo:Estação Liberdade, 1998.

GARCIA, RWD. Alimentação e Saúde nas Representações e Práticas Alimentares do Comensal Urbano. In: CANESQUI, A M; GARCIA, R W D. (Org.). Antropologia e nutrição: um diálogo possível. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005. p.211-25.

GARCIA, R.W.D. A comida, a dieta, o gosto. mudanças na cultura alimentar. Tese (doutorado) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Departamento de Psicologia Social e do Trabalho – São Paulo: s. n., 1999. 315 p.

ROTENBERG, S; VARGAS, S. Práticas alimentares e o cuidado da saúde: da alimentação da criança à alimentação da família. In: Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, 4(1), 85-94. Jan-març 2004.