ORALIDADE E MEMÓRIA (MEMÓRIA ORAL)

Definição:

Memória oral é a verbalização da nossa memória. É o processo da lembrança e da oralidade de nossas recordações. É a forma de registro mais primordial que possuímos. De forma seletiva, grupos e indivíduos articulam suas experiências passadas formulando uma narrativa histórica acerca de suas trajetórias. Essa narrativa é construída e reconstruída segundo nossas perspectivas presentes e ao mesmo tempo constitui a base a partir da qual vislumbramos nosso futuro. A memória oral representa a forma mais antiga e mais humana de transmissão e consolidação dessa narrativa.



 

Histórico: oralidade é a transmissão oral dos conhecimentos armazenados na memória humana. Antes do surgimento da escrita, todos os conhecimentos eram transmitidos oralmente. A memória auditiva e visual eram os únicos recursos de que dispunham as culturas orais para o armazenamento e a transmissão do conhecimento às futuras gerações. A inteligência estava intimamente relacionada à memória. Os anciões eram os mais sábios, pelo  conhecimento acumulado. Antes da invenção e da utilização sistemática da escrita, a oralidade e suas tradições desempenharam o papel de guardar e evidenciar as vivências comunitárias. Desde os tempos imemoriais que diferentes comunidades com diversos padrões sociais utilizam-se das narrativas não somente como forma de transmissão de suas tradições culturais, mas também como um mecanismo mantenedor da unidade e da identidade entre os seus. Nesse contexto, cabe à memória humana, essencialmente auditiva, o status de guardião da história. Assim, a palavra dita, é o único recurso de que se dispõe para o “arquivamento e a transmissão” do saber. A história e as práticas sociais estão intrinsecamente vinculadas à memória. A oralidade contribui para “documentar” o mundo, suas mensagens e suas experiências de vivências, através de narrativas repetidas e mnemonicamente apreendidas. Hoje estudiosos sociais, antropólogos e literários reconhecem o caráter intelectual das narrativas orais. Estudá-las, torna-se importante na apreensão de condutas, costumes e ações de determinados grupos ou de atos individuais isolados, motivados pela memória social.

Comentário: existe um movimento de valorização do recurso à memória oral no campo das Ciências Humanas. Entre psicólogos sociais, antropólogos e historiadores, cada vez mais assídua tem sido a prática do recolhimento de lembranças por meio de depoimentos. O autor Jacques Le Goff em seu livro História e Memória escreve um texto denominado “Memória”, que descore sobre o progresso desse conceito através do tempo e também sobre sua importância para a história. “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens” (LE GOFF, 2003, p. 477). A memória é uma construção de identidades que deve servir para a libertação do passado histórico, que muitas vezes fica retido no inconsciente das pessoas e é através dela que se consegue resgatar a história. Uma metodologia de pesquisa utilizada para o resgate da memória é a História Oral – ferramenta de trabalho que possibilita a coleta de depoimentos individuais e coletivos, estabelecendo posturas e atitudes na produção da história coletiva. O uso da História Oral enriqueceu o processo de pesquisa e também possibilitou às comunidades ter parte de sua história recuperada na ausência de documentos textuais. A História Oral tem papel fundamental no processo de resgate de uma identidade de um determinado grupo social não somente como fonte de informação sobre seus costumes e vivências, mas também como estímulo à participação da comunidade no processo de valorização do patrimônio coletivo.

É a dinâmica da oralidade que separa a história da memória. É aí que se dá o papel da história oral como mediadora entre uma solução que se baseia em documentos escritos (história) e outra (memória que se estrutura, quase que exclusivamente, apoiada na fluidez das transmissões orais” (MEIHY, 1996, p. 53 e 54).

O uso da História Oral faz uma mediação entre a História e a memória, dando sentido à memória como tema para a História.



 

Autoria:
Ana Lígia Trindade

 

Referências

FROCHTENGARTEN, Fernando. A memória oral no mundo contemporâneo. Estud. av. [online], v.19, n.55, p. 367-376, 2005.

LE GOFF, Jacques. Memória. In: LE GOFF, Jacques História e Memória. 5. ed. Campinas, SP: UNICAMP, 2003.

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. 4. ed. São Paulo: Loyola , 1996.

 

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