NÓS DA MEMÓRIA E MEMÓRIA LONGA

Definição:

Conceito criado por Gérard Bouchard em face dos dilemas de identidade das nações do Novo Mundo e sua cultura fundadora (coletividade nova). Surgem a partir da constituição das elites e a afirmação destas enquanto entidades distintas da metrópole, conduzindo essa nova coletividade à criação de uma cultura própria (passado-presente-futuro = origens, espaço, utopia). A juventude de tais nações e sua fragilidade cultural expõem-nas ao risco de arbítrio/usurpação. Assim, surge como forma de legitimação (portanto, de fortalecimento da identidade nacional).



 

Histórico: a utilização da “memória longa” da nação-mãe, enquanto meio para “nutrir as estratégias simbólicas da fundaçãoe “desenrolar o fio das origens na duração longa”, contudo, confronta-se com os seguintes problemas, segundo o conceito do autor: “Como construir uma memória longa a partir de uma história curta?” e Como opera a função (ou a ficção?) memorial nas nações novas?”. Impõem-se os jogos de memória, isto é, recursos de alinhamento da memória longa pela adoção, repúdio ou negação e escolha de seus ancestrais como forma de legitimação. Trata-se de configurações simbólicas para sustentação da história dessas coletividades, consistindo em subespécies da “memória longa”, ou seja, podem ser a “memória-emprestada” da pátria-mãe (utilização da memória do tempo longo da sociedade de origem, tendo por características a continuidade cultural e a Substância e ancoragem simbólicas) ou da cultura autóctone/indígena (a qual caracteriza-se pelo repúdio às origens europeias, apropriação da memória dos indígenas e atribuição aos mesmos do status de ancestrais, reconhecendo a pré-existência de patrimônio cultural digno de orgulho). Ambas as opções apresentam riscos: No primeiro caso, a segurança da cultura da pátria-mãe contrapõe-se o risco de submissão ou dependência à mesma; no segundo, à autonomia contrapõe-se o risco de “vácuo cultural”. Ainda, podem ocorrer os chamados “furos de memória”, como alternativa à utilização da memória longa emprestada, por meio da fundação própria de legitimidade. O exemplo bem sucedido – e cuja referência se faz necessária para melhor compreensão do conceito – é a cultura americana, desapegada de lembranças da pátria-mãe e conceituada por um recomeço num “marco zero” da criação da coletividade. A não utilização de memória longa emprestada pode gerar, contudo, a subespécie conceituada como “nós da memória” que, segundo o autor, seriam casos de “furo de memória” fracassados, em que houve a recusa ou incapacidade de adoção da memória longa da mãe-pátria e a omissão quanto à criação de uma memória distinta da original.

Comentário: a importância dos jogos de memória para as coletividades novas repousa na sua vinculação ao funcionamento social, pois o que é antigo faz autoridade, donde exsurge o Instituto da Memória Longa – a Ancianidade enquanto estratégia variável, portanto, conforme a política da memória necessária a determinado momento da história da nação.



 

Autoria:
Aline Leal Fontanella

Referências

BOUCHARD, Gèrard. Jogos e nós de memória: a invenção da memória longa nas nações do Novo Mundo. In: LOPES, C.G. et al. Memória e Cultura: perspectivas transdisciplinares. Canoas: Salles/Unilasalle, 2009. (Série Memória e Patrimônio, 1)

 

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