MEMORIAL/MEMORIALISMO (MEMORIAL PROFISSIOGRÁFICO)

Definição:

Em língua francesa: Mémoires, Mémorialisme. Um “mémoire” (memorial) é, como seu nome o indica ; um conjunto de notas destinadas a conservar as marcas de um fato. As primeiras produções atestadas desse gênero guardam as marcas de sua função primordial: memórias históricas, científicas, jurídicas, etc. que foram definidas como “relações de fatos ou acontecimentos particulares para servir à história” (Dicionário da Academia francesa, 1694). Hoje, esses relatos abundam e o emprego da palavra no plural (memórias) designa, desde o séc. XVI, um gênero que participa ao mesmo tempo da história (crônicas e anais) e da  autobiografia, narrativa na qual uma pessoa relata fatos que considera dignos ou necessários a um testemunho ou justificativa. Massaud Moisés, em seu Dicionário de termos literários identifica “memórias” a “autobiografia”, ou história de vida. Note-se a variante “memorial profissiográfico” geralmente solicitado a candidatos a cursos de pós-graduação ou a vagas em determinadas empresas cujo objetivo é o de apresentar: (a) informações que o candidato julgue relevantes em seu percurso profissional e acadêmico como a importância de cada experiência para o processo de formação e aperfeiçoamento profissional e/ou pessoal; (b) resumo de seu envolvimento em algum projeto de iniciação científica e/ou pesquisa da qual tenha participado na graduação/especialização, bem como o trabalho de conclusão do curso; (c) principais inquietações “investigativas” que cada experiência de trabalho suscitava, ou seja, situações de trabalho que indicam necessidade de aprofundamento, de mais estudos.



 

Histórico: As primeiras memórias aparecem no final do séc. XV. Esse gênero agradou ao público da corte durante os três séculos seguintes atingindo notoriedade. Muitas vezes eram essas “memórias” escritas por generais, ministros, aristocratas que atingiram notoriedade, caindo, posteriormente em desgraça. São exemplos de memórias, na contemporaneidade: As palavras (1963), de J.P. Sartre, e Memórias de uma jovem bem comportada (Simone de Beauvoir, 1958) que se constituem-se em  recriações do passado e do presente do eu, podendo-se dizer que se trata de um exercício de construção da subjetividade. Há exemplos também do que se pode chamar de “falsas memórias” ou autoficção como o romance Memórias de Hadriano de Marguerite Yourcenar (1951), que toma de empréstimo a fórmula das memórias, sendo em realidade um romance histórico. Em sua origem as “memórias” são o gênero utilizado por grandes figuras que tentaram legitimar suas ações seja escrevendo elas próprias suas memórias, ou pagando escritores para fazê-lo.

Comentário: muitas vezes as memórias correspondem a tentativas de revelar um fato omitido pela história oficial, o que explica que o gênero seja hoje sob diferentes apelações (lembrançcas, cadernos, testemunho) uma das categorias mais prolíficas da produção textual e literária. É interessante notar a diferenciação que se estabelece nos dias de hoje entre os conceitos de autobiografia e autoficção (Ver Autoficção).



 

Autoria:
Zilá Bernd

 

Referências

CANTAN, A.; VIALA, A. Mémoires. In: ARON, P.; SAINT-JACQUES, D.; VIALA, A. Le dictionnaire du Littéraire.  Paris: PUF, 2002. p. 370-371.

MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários.  3. ed. São Paulo: Cultrix, 1982.

MANUAL do candidato ao Mestrado em Memória Sociel e Bens Culturais. Unilasalle, 2009.

 

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