MEMÓRIA E NEUROCIÊNCIAS

Definição/Histórico:

De acordo com postulados da Neurociência (estudo da realização física do processo de informação no sistema nervoso humano, que engloba três áreas principais: neurofisiologia, neuroanatomia, neuropsicologia), a memória e suas expressões (evocação, recordação, lembranças) situam-se no córtex (lobo) temporal, na região chamada Hipocampo, que, junto com suas conexões, é a principal estrutura envolvida na sua formação e evocação. A amígdala cerebral é o núcleo modulador dos aspectos emocionais das memórias. Os neurônios (células nervosas) são ativados por mecanismos bioquímicos, mas emitem suas mensagens por meio de atividade elétrica. As conexões entre neurônios chamam-se sinapses, que levam impulso elétrico de uma célula a outra, mediado por substâncias químicas, chamadas neurotransmissores e moduladores. Na formação das memórias pelo hipocampo, participam a expressão gênica, a síntese protéica e várias vias metabólicas celulares. Na expressão das memórias participam algumas destas vias metabólicas, mas não os outros fatores citados. “As memórias são adquiridas sob influência de determinado ‘tônus’ cerebral dopaminérgico, noradrenérgico, serotonérgico, ou beta-endorfínico e de um tônus hormonal paralelo. Esses moduladores e hormônios facilitam a formação de memórias agindo sobre mecanismos específicos nas áreas do cérebro que as fazem e, de certa forma, incorporam informações a ela” (IZQUIERDO, 2010, p. 45). Elas são melhor evocadas quando esses “tônus” bioquímico se repetem de forma semelhante ao que eram no momento de sua aquisição. Toda memória é adquirida num certo estado de emoção – quanto mais forte o conteúdo emocional, mais duradoura a memória. Cada estado emocional é acompanhado por constelação de efeitos hormonais e neuro-hormonais (humores) diferentes. Há vários tipos de memória: a) a “memória de trabalho” não forma arquivos duradouros, desaparece em segundos ou, no máximo, em minutos; é fugaz; depende da atividade elétrica dos neurônios do córtex pré-frontal, que são ativados em resposta às experiências de cada momento e somente às vezes persiste um pouco mais. Serve para discriminar informações e selecionar quais correspondem ou não a memórias preexistentes (filtro); analisa a realidade e tem funcionamento constante. Quando falha, a realidade torna-se incompreensível ou alucinatória (por exemplo, pelo cansaço extremo ou excesso de informações). Esquecimento rápido é sua propriedade fundamental. Adapta o ser humano no mundo, fazendo algumas coisas e evitando outras; b) a “memória de curta duração” forma-se em poucos segundos a partir da memória de trabalho, resiste por algumas horas (de 3 a 6), suficientes para formar a memória remota; não precisa de síntese protéica e nem expressão gênica, mas de processos moleculares e bioquímicos; c) a ”memória de longa duração (remota)” dura 24 horas ou mais (até décadas); é metabolicamente mais complicada. O esquecimento real ocorre por desuso das sinapses ou dos neurônios que carregavam a memória. Há quatro formas de esquecimento: (1) extinção e repressão, tornando as memórias menos acessíveis, mas sem perdê-las por completo; (2) bloqueio de sua aquisição e esquecimento (deterioração e perda da informação), consistindo em perdas reais de informação.

Comentário: nem tudo o que é adquirido pela experiência forma memória, nem todas as memórias ficam para sempre e a perda de memórias não é só fruto de lesão de vias nervosas ou da repressão voluntária ou involuntária de sua expressão. Existe a “arte de esquecer”.



 

Autoria:
Nádia Maria Weber dos Santos

 

Bibliografia

IZQUIERDO, Iván. Questões sobre memória. São Leopoldo: UNISINOS, 2004.

______.  A arte de esquecer; cérebro, memória e esquecimento. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2010.

LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais. São Paulo: Atheneu, 2002.

 

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