HISTÓRIA E MEMÓRIA

Apresentação:

A Memória, no sentido primeiro do termo, é a evocação do passado, ou é a presença do passado. A História traz o passado à tona. O que a Memória e a História têm em comum é o fato de ambas serem representações narrativas que propõem uma reconstrução do passado e que “se poderia chamar de registro de uma ausência no tempo” (PESAVENTO, 2003, p. 94). Porém, embora tenham uma matéria-prima comum, ambas não se confundem e suas especificidades são muito discutidas entre os historiadores. Resgatando Ricoeur, à História ficaria negado o reconhecimento ou a confirmação da autenticidade da lembrança e da veracidade da matéria da evocação, o que é reservado à Memória; a reconstrução/representação da narrativa histórica passa por uma verossimilhança, por um “teria sido” (PESAVENTO, 2003).



 

Histórico: para Halbwacks (2006), é diferente a forma como ambas se relacionam com o tempo: Memória se refere ao sentimento de continuidade naquele que se lembra, ou seja, a Memória não faz corte ou ruptura entre passado e presente, retendo do passado somente aquilo que está vivo ou é capaz de viver na consciência de um grupo. Já na História há descontinuidades entre o tempo de quem a lê e os atores sociais: a História fragmenta o tempo. Pierre Nora (1993) nos remete a uma reflexão semelhante: Memória é um processo vivido, conduzido por grupos vivos, portanto, em evolução permanente e aberta à dialética da lembrança e do esquecimento; História é registro, distanciamento, problematização, crítica, reflexão, é reconstrução sempre incompleta do que não existe mais.  Em Le Goff (1996), a História é a forma científica da memória coletiva. “O tempo histórico encontra, num nível muito sofisticado, o velho tempo da memória, que atravessa a história e a alimenta” (LE GOFF, 1996, p.13). A Memória serve ao passado e ao futuro também, existindo numa relação simbiótica com a História e aplicando-se ambas a dois tipos de materiais: os documentos e os monumentos, representações das sociedades do passado, que se mostram ao futuro. Porém, ao historiador cabe a tarefa de fazer a crítica do documento, que não sendo um material inocente, torna-se aí monumento.

Comentário: Peter Burke (2000) refere que o historiador precisa se ocupar com a Memória sob dois pontos de vista. O primeiro, diz respeito à Memória como fonte histórica, tendo o historiador que fazer uma crítica da reminiscência, nos moldes do tratamento das fontes documentais; o segundo é tratar a Memória como fenômeno histórico, fazendo a “história social do lembrar”, ou seja, identificar no percurso do tempo as modificações pelas quais passam os processos seletivos das memórias sociais. “Heródoto imaginou os historiadores como guardiões da memória, a memória de feitos gloriosos. Eu prefiro ver os historiadores como os guardiões de fatos incômodos, os esqueletos no armário da memória social” (BURKE, 1992, p. 251) Para ele, uma das funções mais importantes do historiador consiste em recordar às pessoas aquilo que elas gostariam de esquecer.



 

Autoria:
Nádia Maria Weber dos Santos

 

Bibliografia

BURKE, Peter. “História como memória social”. In: O mundo como teatroestudos de antropologia histórica. Lisboa: DIFEL, 1992. p.235-251.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: editora da UNICAMP, 1996.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Projeto História: São Paulo, PUC, n.10, pp. 7-28, dezembro de 1993.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

 

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