ETNICIDADE E MEMÓRIA

Definição:

etnicidade” é um conceito que surge a partir das limitações da noção de “raça”. Enquanto a raça pressupõe uma classificação biológica, são diversas as características que distinguem os grupos étnicos, como “hábitos, história, língua, religião, linhagem, vestes e adornos, entre outros” (OLIVEIRA, 2010, p. 195). Segundo Eurídice Figueiredo (2010, p. 10), a etnicidade “se define como uma categoria que situa o indivíduo ou grupo social como sendo Outro”. Existindo um grupo majoritário, que se apresenta como referência, esse percebe a diferença como uma ameaça, o que leva a uma tentativa de exclusão, isolamento e assimilação desses “outros”. Essa diferença então torna-se uma oposição que se exprime através do discurso e da representação. Uma vez que a etnicidade se apresenta dentro de um processo de construção de identidade, há uma relação estreita com a articulação da memória.



 

 

Histórico: o termo etnicidade aparece nos estudos de Ciências Sociais entre as décadas de 1960 e 70, como resultado direto do crescimento do uso do conceito de etnia (POUTIGNAT; STREIFF-FENART, 1997). Quando se relacionam vínculos étnicos a laços de identificação e lealdade, a etnicidade surge como uma nova forma de consciência de classe, estabelecendo sentimentos de pertença e afastamento. Num contexto moderno, a etnicidade aparece na relação entre globalização e identidades regionais, onde se observa tanto um crescimento nas relações intergrupais quanto uma resistência à uniformização cultural e linguística. Mesmo quando há consonância, a etnicidade explicita as diferenças. Um exemplo dessa relação é a população imigrante de um bairro paulistano: o “sentimento de serem diferentes e, mesmo assim, semelhantes era particularmente visível entre os não-europeus, que tinham mais a ganhar abraçando tanto uma nacionalidade brasileira [...] quanto suas novas etnias pós-migratórias. Essas identidades eram múltiplas e muitas vezes contraditórias” (LESSER, 2001, p. 19). Quanto à incorporação de uma identidade brasileira, os imigrantes mantiveram suas tradições em uma escala local – na família, na rua, no bairro.

Comentário: os símbolos e tradições reforçam o sentimento de unidade de um grupo, porém pode haver uma tentativa de inclusão em um grupo maior através do compartilhamento de tradições. Pode-se ver essa dualidade em manifestações culturais como a poesia afro-brasileira, que se propõe como mecanismo memorial e de resgate de tradições e, simultaneamente, busca reconhecimento como parte da literatura brasileira. Nesse momento a etnicidade surge como uma espécie de fronteira entre as identidades global e local. Através da memória se constrói uma identidade, e a etnicidade surge como uma manifestação aberta dessa identidade.



 

 

Autoria:
Plínio Corrêa Jr.


Referências

FIGUEIREDO, Eurídice. Representações de etnicidade: perspectivas interamericanas de literatura e cultura. Rio de Janeiro: 7Letras, 2010.

LESSER, Jeffrey. A negociação da identidade nacional: imigrantes, minorias e a luta pela etnicidade no Brasil. São Paulo: UNESP, 2001.

OLIVEIRA, Aciomar Fernandes de. A representação da etnicidade em Lima Barreto e João do Rio: semelhanças e divergências. In: DUARTE, Constância de Lima; DUARTE, Eduardo de Assis; ALEXANDRE, Marcos Antônio (Org.). Falas do outro: literatura, gênero, etnicidade. Belo Horizonte: Nandyala, 2010. P. 194-200.

POUTIGNAT, Phillipe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da Etnicidade. São Paulo: UNESP, 1997.

 

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