EMPREENDEDORISMO CULTURAL

Definição:

A noção de empreendedorismo cultural estabelece uma relação entre dois conceitos oriundos de distintos campos de ação e conhecimento: o de empreendedor, concebido na economia e na administração; e o de cultura, tema central na Antropologia e na Sociologia. É o gerenciamento de empresas culturais. É a transformação de companhias de teatro, circo, dança, bandas de música, artístas plásticos em empreendimentos gerenciados no formato de empresas, buscando mercado, fornecedores e preços competitivos.



 

Histórico: a moderna concepção de empreendedorismo surgiu com os economistas, sendo Schumpeter (1934) um dos pioneiros na formulação teórica. Para esse economista, o empreendedor é um agente de inovação e fator dinâmico na expansão da economia. Nessa perspectiva, o empreendedor é um agente capaz de realizar com eficiência novas combinações de recursos. Ele não é necessariamente o proprietário do capital, mas um agente capaz de mobilizá-lo. Da mesma forma, ele não é necessariamente alguém que conhece as novas combinações, mas consegue usá-las eficientemente no processo produtivo (BYGRAVE, 1989). Na Psicologia, o pioneiro foi David McClelland, que, em 1961, apresentou a concepção do empreendedor como uma pessoa psicologicamente diferente dos outros, porque possui uma alta necessidade de realização. As características individuais mais frequentes atribuídas aos empreendedores são liderança, autoconfiança, flexibilidade, otimismo, orientação a resultados e maior propensão a risco, entre outras. As referências teóricas no campo da Sociologia (SWEDBERG, 2000; THORTON, 1999) enfatizam que o empreendedorismo é também um fenômeno de natureza social e cultural, e não apenas psicológico e econômico. Entende-se o empreendedorismo como um processo dinâmico, que adquire novos contornos de acordo com as mudanças nos contextos sociais, culturais e econômicos. Quanto ao empreendedorismo cultural, este conceito surge na década de 1980, com Paul Dimaggio (1982), que discute o papel do empreendedor na formação e sustentação de organizações culturais sem fins lucrativos (orquestras, museus de arte, teatros, etc.). Dimaggio analisou a diversidade de formas das organizações culturais, identificando três tipos: 1) aquelas organizações estruturadas empresarialmente com finalidade de lucro, que se sustentam por meio de receitas oriundas do público que frequenta seus espetáculos e produções; 2) as organizações sem fins lucrativos, que se sustentam por meio de doações privadas e subsídios estatais; e 3) os pequenos grupos de artistas e produtores, que se organizam de modo voluntário e temporário, visando a realização de um espetáculo ou produção cultural, e que se sustentam precariamente com o trabalho não-remunerado de seus integrantes, pequenas doações e contribuições do público e do Estado. O autor destaca que a organização cultural estruturada em moldes empresariais não é o modelo predominante no setor cultural. Numericamente, predominam as organizações culturais sem fins lucrativos ou os pequenos grupos de artistas amadores, o que reflete na dinâmica de sua gestão, que não segue as normas e padrões preconizados na literatura empresarial tradicional.

Comentário: a concepção de empreendedorismo cultural também está ligada ao conceito de redes sociais. Ou seja, o empreendedor não é a de um ator atomizado e individualista, que atua de maneira isolada. Ele é, antes de tudo, um articulador e um forjador de redes, com capacidade de unir e conectar, de maneira muitas vezes inovadora, diferentes atores e recursos dispersos no mercado e na sociedade, agregando valor à atividade produtiva. Assim, a habilidade empreendedora inclui a capacidade de operacionalizar acordos entre as partes interessadas, tais como o criador, o investidor, os patrocinadores e os distribuidores, bem como garantir a cooperação de agências governamentais e de manter relações bem sucedidas com os trabalhadores e o público (VALE et al., 2005).



 

Autoria:
Ana Lígia Trindade

Referências

BYGRAVE, W. D. The entrepreneurship paradigm (I): A philosophical look at its research methodology. Entrepreneurship Theory and Practice, v. 14, n. 1, p. 1-26, 1989. DIMAGGIO, Paul. Cultural entrepreneurship in nineteenth-century Boston. Media, Culture, and Society, v. 4, p. 33-50, 1982.

LIMEIRA, Tânia Maria Vidigal. Empreendedor cultural: perfil e formação profissional. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura – ENECULT, 4., 2008. Anais… Salvador: Faculdade de Comunicação/UFBa2008. Disponível em: < http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14310.pdf> Acesso em: 10 jan. 2011.

SCHUMPETER, J. A. The Theory of Economic Development. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1934.

SWEDBERG, R. Entrepreneurship: The social science view. New York: Oxford University Press, 2000.

THORNTON, Patricia. The sociology of entrepreneurship. Annual Review of Sociology, v. 25, p. 19-46, 1999.

VALE, G.M.V.; WILKINSON, J.; AMÂNCIO, R. Desbravando Fronteiras: o Empreendedor como Artesão de Redes e Artífice do Crescimento Econômico. In: Congresso da ENANPAD, 29, 2005. Anais… Rio de Janeiro: Associação Nacional de Pós-Graduação em Administração, 2005.

 

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